A derrota sofrida pela
seleção brasileira de 7 a 1 contra a Alemanha pela Copa do Mundo de
2014 em 8 de julho foi uma tragédia muito maior do que aquela
ocorrida em 1950 quando perdemos de 2 x 1 do Uruguai em pleno
Maracanã. Mas não é propriamente pelo resultado que a situação é
mais assustadora hoje. Em 1950 a derrota foi um triste episódio no
processo de desenvolvimento do futebol brasileiro que viria a se
tornar a maior potência futebolística do mundo. Agora, a situação
é diferente, parece ser a comprovação de um duro processo de
decadência.
Em 1950 a Europa pós
guerra ainda se encontrava em processo de reconstrução e a
realização de uma nova Copa do Mundo teria que ser feita fora do
velho continente - a anterior havia sido realizada em 1938 na França.
A escolha do Brasil não deixou de ser um reconhecimento do seu
protagonismo neste esporte. Vice campeão em 50, o Brasil foi
vencedor do Pan-Americano dois anos depois (o primeiro título
internacional do futebol brasileiro); em 1954 o país foi eliminado
nas quartas de final pela vice campeã Hungria de Puskas por 4 x 2
para ser campeão em 1958 e bi campeão em 1962. Houve um vexame em
1966 com a eliminação ainda na primeira fase causada, segundo
jornalistas esportivos, por problemas na preparação da seleção
para, em 1970, atingir a consagração no México com a conquista do
tri campeonato.
Mas os anos 70 ficaram
marcados por novas derrotas, pela desorganização dos campeonatos
locais e pela ingerência do governo militar nas estruturas do
esporte mais popular do país. Os anos de 1980, em pleno processo de
abertura política, começam com a Copa da Espanha (1982) e o chamado
“futebol-arte” de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e outros que,
apesar da derrota sofrida contra a Itália (3 x 2), encantaram o
mundo e deram início a fase de exportação maciça de craques para
o futebol mundial, principalmente europeu.
O Brasil só seria
vencedor novamente em 1994, nos EUA, decidindo o título nos pênaltis
e em 2002, cujos jogos foram realizados no Japão e na Coreia. As
seleções desta época apresentaram nomes mundialmente famosos como
Roberto Carlos, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo e Romário, entre outras
estrelas que brilhavam em campeonatos pelo mundo afora.
Apesar de ter sofrido
derrotas dramáticas neste intervalo, como contra a França em 1998
(3 x 0), nenhuma delas adquiriu a dimensão do fracasso atual. Estas
derrotas eram vistas como batalhas épicas onde o futebol brasileiro
havia sido derrotado por oponentes que souberam se aproveitar de
circunstâncias propícias, o que não diminuía a dimensão do
futebol brasileiro, aliás, engrandeciam mais os vencedores.
Se havia sucesso e
reconhecimento mundial, internamente, a situação era diferente.
Enquanto o nível do futebol praticado em outros países evoluía,
transformando antigos “pernas de pau” em equipes competitivas, o
Brasil permanecia estacionado em sua glória.
Os campeonatos
realizados por aqui naufragavam em jogos sofríveis enquanto
empresários enriqueciam negociando jogadores com o exterior. Os
melhores atletas de futebol do planeta eram brasileiros mas
absolutamente nenhum deles permaneciam muito tempo em clubes
brasileiros, todos partiam em busca do dinheiro que a
economia-futebol do país da bola não podia lhes oferecer.
O resultado foi a
mercantilização do esporte, esvaziamento dos estádios,
enfraquecimento dos clubes, atraso na parte tática e preparação
técnica, a perda de receitas, enfim, o início da decadência do
melhor futebol do mundo.
Ironicamente, em uma
Copa onde havia, por parte de muitos, o temor de que a desorganização
desse o tom (pelo contrário, o campeonato só tem recebido
elogios), o maior problema acabou sendo o nosso futebol.
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Se quiser conhecer a
opinião de alguns jornalistas esportivos e ex jogadores sobre a
derrota contra a Alemanha lei
AQUI.