No fim do mês de julho de 2014 o banco Santander enviou para seus
clientes com maior renda, junto com o extrato bancário, um texto
abertamente crítico ao governo federal do Partido dos Trabalhadores
- PT. Travestido de análise econômica a avaliação, para usar um
termo de mercado, possuía um claro “viés de oposição”.
Exatamente no momento em que a campanha eleitoral tem início. A nota afirma que se a presidente Dilma Roussef estabilizar ou
voltar a subir nas pesquisas caminharemos para o abismo. “O câmbio
voltará a se desvalorizar, juros longos retornariam alta e o índice
da Bovespa cairia”.
O episódio rendeu protestos e a direção do banco emitiu nota
oficial condenando o ocorrido que teria ferido o código de conduta
interna que “veda explicitamente a elaboração de qualquer análise
e posicionamento político ou partidário”. A empresa também
demitiu os responsáveis que, segundo o jornal Valor Econômico
(edição de 8 de agosto), seriam quatro funcionários, entre eles a
superintendente de investimentos.Mas o que levaria alguns funcionários, com grande
responsabilidade na estrutura da empresa, a infringir um código de
conduta que, devido aos cargos que ocupam na hierarquia
administrativa, deveriam conhecer e zelar?
Neste caso específico podemos imaginar que se deve ao fato de que
elas acreditavam que, a despeito das regras, estavam a expressar a
opinião do banco. Portanto, os quatro funcionários teriam agido por
motivos ideológicos e não pela responsabilidade burocrática. Toda empresa moderna tem o que os seus “gestores” chamam de
“cultura interna”, “valores” aos quais defendem e pretendem
que seus “colaboradores” assumam diariamente. Em linguagem
popular querem que seus empregados vistam a camisa.
Se isto é verdade – e penso que seja - “os quatro cavaleiros
do apocalipse bancário” apenas difundiam as mais profundas
convicções do sistema financeiro em face do governo petista. Aliás,
foi demonstrado pelo próprio Valor Econômico que a avaliação
apresentada pelo Santander copiava trechos de análise anterior
elaborada por consultores do Banco Fator.
Outra amostra de um sentimento antipetista tiveram os apreciadores
de clássicos cinematográficos que, para economizar alguns trocados,
se arriscaram a comprar uma cópia pirata de Suplício de uma
saudade, dos camelôs da cidade de Santos no litoral paulista. O
filme narra a história de um correspondente de guerra (William
Holden) que se apaixona por uma médica (Jennifer Jones) em meio a
Guerra da Coréia. Lançado em 1955, sua música levou dois Oscars
(melhor Trilha Sonora e melhor Canção Original) e o tema central,
Love Is a Many-Splendored Thing se tornou uma das mais conhecidas da
história do cinema.
Mas, antes de apreciar esta aventura romântica, o espectador, ao
ligar seu DVD, se depara com uma espécie de video-clip de sete
minutos onde imagens demonizam lideranças do PT e ícones da
esquerda. Tudo embalado por uma música, ao que parece, especialmente
composta para a função. Naturalmente, a produção do filmete não está identificada na
obra. Neste caso, assim como no episódio do banco, pessoas estão se
valendo dos meios a sua disposição para divulgar ideias
conservadoras. No caso do DVD, chega a beirar o fascismo.
Nestes exemplos estamos frente a dois atos de “militância”.
Muitos pensam que o ativismo é um atributo “de esquerda”, o que
é uma visão simplória da realidade política, e a história já se
encarregou de provar isto. No Brasil, cada vez mais o conservadorismo
avança com seus militantes e é preciso deixar claro que existe um
ativismo de direita em curso. Em que pese as teorias conspiratórias, na verdade não existe um
centro organizador que manipula e controla as iniciativas espalhados
por todos os espaços sociais. Os responsáveis agem de acordo com a
“natureza” de suas convicções e querem influenciar a opinião
de terceiros. Este ativismo se vale de todos os meios disponíveis,
mas, por se tratar de uma parcela social economicamente favorecida,
possui mais recursos para atuar. No episódio do banco Santander isto
está claro e no caso do DVD pirata existe uma organização que
produz e distribui o produto falsificado, portanto, estamos tratando
de uma “indústria”. Mas é inegável que grande parte da atuação
militante da direita (e também da esquerda) se dá pela internet, o
que já gerou neologismos como “ciberativismo” e “click
ativismo”.
Recentemente tivemos mais uma prova deste tipo de militância.
Após o falecimento do candidato a presidente pelo PSB, Eduardo
Campos, morto em um acidente aéreo em 13 de agosto, pudemos ver
pelas redes sociais (facebook. Twitter etc.) mais uma leva de
manifestações que engrossaram este ativismo conservador com alusões
sobre uma suposta participação da presidente Dilma Roussef e do PT
na morte do político. Algumas publicações não passam de um
exercício de humor negro, algumas são canalhas, mas outras são
bastante claras em sua intenção de insinuar que a presidente é
cúmplice em uma bem urdida trama de assassinato (algumas publicações
também chegaram a ligar o nome de Marina Silva, candidata a
vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, de envolvimento, mas sem
a intensidade que atingiu o PT).
As origens das mensagens são variadas. Muitas são anônimas mas
algumas estão claramente identificadas. O pensador de direita, Olavo
de Carvalho, publicou em seu site: “O governo torna sigilosas as
investigações de acidentes aéreos e poucos dias depois já vem um
acidente aéreo politicamente relevante. Ou o acaso está gozando da
nossa cara, ou não é acaso”. Por sua vez, Júlio Jacob Júnior,
presidente da Copel Participações S/A e assessor do governador do
Paraná, Beto Richa (PSDB), escreveu em seu facebook: “Reafirmo,
suspeito sim de sabotagem, típica de fanatismos como vários
radicais do PT.”
Se podemos tirar alguma lição destes acontecimentos é o de que
a direita está ativa no país e disputando a opinião pública com
todas as ferramentas de que dispõe, inclusive distorcendo a
realidade. A reação das forças progressistas deve se dar
divulgando informações claras e precisas, nunca na mesma moeda de
manipulação e mentira. Ou isto é feito ou esta poderá ser tornar
uma das campanhas eleitorais mais sórdidas da república.
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