domingo, 17 de agosto de 2014

A reeleição de Dilma e a militância conservadora


No fim do mês de julho de 2014 o banco Santander enviou para seus clientes com maior renda, junto com o extrato bancário, um texto abertamente crítico ao governo federal do Partido dos Trabalhadores - PT. Travestido de análise econômica a avaliação, para usar um termo de mercado, possuía um claro “viés de oposição”. Exatamente no momento em que a campanha eleitoral tem início. A nota afirma que se a presidente Dilma Roussef estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas caminharemos para o abismo. “O câmbio voltará a se desvalorizar, juros longos retornariam alta e o índice da Bovespa cairia”.
O episódio rendeu protestos e a direção do banco emitiu nota oficial condenando o ocorrido que teria ferido o código de conduta interna que “veda explicitamente a elaboração de qualquer análise e posicionamento político ou partidário”. A empresa também demitiu os responsáveis que, segundo o jornal Valor Econômico (edição de 8 de agosto), seriam quatro funcionários, entre eles a superintendente de investimentos.Mas o que levaria alguns funcionários, com grande responsabilidade na estrutura da empresa, a infringir um código de conduta que, devido aos cargos que ocupam na hierarquia administrativa, deveriam conhecer e zelar?
Neste caso específico podemos imaginar que se deve ao fato de que elas acreditavam que, a despeito das regras, estavam a expressar a opinião do banco. Portanto, os quatro funcionários teriam agido por motivos ideológicos e não pela responsabilidade burocrática. Toda empresa moderna tem o que os seus “gestores” chamam de “cultura interna”, “valores” aos quais defendem e pretendem que seus “colaboradores” assumam diariamente. Em linguagem popular querem que seus empregados vistam a camisa.
Se isto é verdade – e penso que seja - “os quatro cavaleiros do apocalipse bancário” apenas difundiam as mais profundas convicções do sistema financeiro em face do governo petista. Aliás, foi demonstrado pelo próprio Valor Econômico que a avaliação apresentada pelo Santander copiava trechos de análise anterior elaborada por consultores do Banco Fator.
Outra amostra de um sentimento antipetista tiveram os apreciadores de clássicos cinematográficos que, para economizar alguns trocados, se arriscaram a comprar uma cópia pirata de Suplício de uma saudade, dos camelôs da cidade de Santos no litoral paulista. O filme narra a história de um correspondente de guerra (William Holden) que se apaixona por uma médica (Jennifer Jones) em meio a Guerra da Coréia. Lançado em 1955, sua música levou dois Oscars (melhor Trilha Sonora e melhor Canção Original) e o tema central, Love Is a Many-Splendored Thing se tornou uma das mais conhecidas da história do cinema.
Mas, antes de apreciar esta aventura romântica, o espectador, ao ligar seu DVD, se depara com uma espécie de video-clip de sete minutos onde imagens demonizam lideranças do PT e ícones da esquerda. Tudo embalado por uma música, ao que parece, especialmente composta para a função. Naturalmente, a produção do filmete não está identificada na obra. Neste caso, assim como no episódio do banco, pessoas estão se valendo dos meios a sua disposição para divulgar ideias conservadoras. No caso do DVD, chega a beirar o fascismo.
Nestes exemplos estamos frente a dois atos de “militância”. Muitos pensam que o ativismo é um atributo “de esquerda”, o que é uma visão simplória da realidade política, e a história já se encarregou de provar isto. No Brasil, cada vez mais o conservadorismo avança com seus militantes e é preciso deixar claro que existe um ativismo de direita em curso. Em que pese as teorias conspiratórias, na verdade não existe um centro organizador que manipula e controla as iniciativas espalhados por todos os espaços sociais. Os responsáveis agem de acordo com a “natureza” de suas convicções e querem influenciar a opinião de terceiros. Este ativismo se vale de todos os meios disponíveis, mas, por se tratar de uma parcela social economicamente favorecida, possui mais recursos para atuar. No episódio do banco Santander isto está claro e no caso do DVD pirata existe uma organização que produz e distribui o produto falsificado, portanto, estamos tratando de uma “indústria”. Mas é inegável que grande parte da atuação militante da direita (e também da esquerda) se dá pela internet, o que já gerou neologismos como “ciberativismo” e “click ativismo”.
Recentemente tivemos mais uma prova deste tipo de militância. Após o falecimento do candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 13 de agosto, pudemos ver pelas redes sociais (facebook. Twitter etc.) mais uma leva de manifestações que engrossaram este ativismo conservador com alusões sobre uma suposta participação da presidente Dilma Roussef e do PT na morte do político. Algumas publicações não passam de um exercício de humor negro, algumas são canalhas, mas outras são bastante claras em sua intenção de insinuar que a presidente é cúmplice em uma bem urdida trama de assassinato (algumas publicações também chegaram a ligar o nome de Marina Silva, candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, de envolvimento, mas sem a intensidade que atingiu o PT).
As origens das mensagens são variadas. Muitas são anônimas mas algumas estão claramente identificadas. O pensador de direita, Olavo de Carvalho, publicou em seu site: “O governo torna sigilosas as investigações de acidentes aéreos e poucos dias depois já vem um acidente aéreo politicamente relevante. Ou o acaso está gozando da nossa cara, ou não é acaso”. Por sua vez, Júlio Jacob Júnior, presidente da Copel Participações S/A e assessor do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), escreveu em seu facebook: “Reafirmo, suspeito sim de sabotagem, típica de fanatismos como vários radicais do PT.”
Se podemos tirar alguma lição destes acontecimentos é o de que a direita está ativa no país e disputando a opinião pública com todas as ferramentas de que dispõe, inclusive distorcendo a realidade. A reação das forças progressistas deve se dar divulgando informações claras e precisas, nunca na mesma moeda de manipulação e mentira. Ou isto é feito ou esta poderá ser tornar uma das campanhas eleitorais mais sórdidas da república.

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