terça-feira, 8 de março de 2016

Lições de sexta-feira



A sexta-feira, 4 de março de 2016 foi bastante tumultuada. O dia amanheceu sob o impacto da notícia de uma ação policial com o objetivo de levar “sob condução coercitiva” o ex-presidente Lula a prestar depoimento nas dependências da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, dando a impressão de que ele poderia ser embarcado direto dali para uma carceragem em Curitiba. Tudo isto sob aplausos de uma horda eufórica de “coxinhas”. Questão agora seria entender o porquê desta tão ousada ação ter sido deflagrada exatamente neste momento.




A primeira hipótese era de que se tratava de mais um “show midiático" visando levantar o moral da tropa do impeachment e turbinar o ato marcado para o dia 13 de março. A favor desta tese está o fato de que já na madrugada o editor-chefe da revista Época, Diego Escosteguy, publicou em seu twiter uma mensagem dizendo que o dia seria “especial” (1h45). A s postagens continuaram até as 6h29 quando escreveu a onomatopeia “Bum”. Neste momento começava a operação da PF na casa de Lula. Desnecessário dizer que a imprensa chegou ao aeroporto antes dos policiais e de que haveria todo o fim de semana para repercutir o fato nos jornais. (veja matéria AQUI ). 
A segunda versão dava conta de que a medida não poderia ser adiada pois na mesma sexta-feira a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber daria sua decisão sobre o pedido de defesa de Lula que argumentava “conflito de atribuições” pois tanto o Ministério Público Federal (Lava Jato do juiz Moro) quanto o Ministério Público do Estado de São Paulo investigavam o mesmo caso; o sítio em Atibaia e o triplex no Guarujá.

Segundo a defesa do ex-presidente, a mesma situação não pode ser investigada por diferentes órgãos da Justiça e seria necessário estabelecer a quem cabe a tarefa: à esfera federal ou ao Estado de São Paulo. Para a tese da defesa, como o objeto a ser investigado está localizado em São Paulo, caberia ao Ministério Público de SP esta função.

Para os organizadores da Java a Jato tratava se de precipitar as coisas e fazer com que a ministra se debruçasse sobre um fato dado, assim, pressioná-la para que decidisse a favor do grupo de Curitiba. Como foi visto no noticiário da mesma sexta-feira, a decisão da corte foi salomônica; por enquanto os dois ministérios poderiam continuar atuando no caso. 

Mas também é apontado uma terceira razão para o ocorrido na sexta-feira. Criar um clima político para impedir o novo Ministro da Justiça, Wellington Lima e Silva, de tomar qualquer medida que interfira nos rumos da Lava Jato e assim impedir abusos, ilegalidades e excessos que estariam sendo cometidos,o que estaria acontecendo conforme denúncias de vários advogados e juristas.

A vida do ministro não foi fácil. Alvo de um pedido do deputado Mendonça Filho (DEM-PE), acatado pela juíza federal de Brasília, Solange Vasconcelos, sua nomeação foi cancelada exatamente na sexta-feira (4) sob a alegação de que membros do Ministério Público não podem exercer outra função pública, salvo a de professor. 

Para garantir sua posse, o novo ministro solicitou exoneração do cargo que ocupava junto ao Ministério Público da Bahia e agora o caso deve ser resolvida pelo STF (ver matéria AQUI).

E como não poderia deixar de acontecer, houve uma grande reação das forças populares que começou logo de manhã em frente ao Aeroporto de Congonhas, se espalhou por diversas cidades do país e só terminou por volta das dez horas da noite com o discurso do ex-presidente Lula na quadra esportiva do Sindicato dos Bancários no centro de São Paulo. 

A imediata reação surpreendeu os espíritos golpistas e diversas vozes, inclusive no campo conservador, se levantaram contra os “excessos” do juiz Moro. A tentativa de desestabilizar o governo Dilma (ou fazer uma espécie de “ensaio” para um golpe) foi abortada.

Certamente todos estes movimentos foram calculados e, desta sexta-feira 4, restaram duas lições: a primeira é que só com a unidade e a mobilização do campo progressista a escalada golpista patrocinada por setores da elite poderá ser detida e a outra certeza é a de que o movimento conservador é altamente organizado, está profundamente enraizado nos organismos do Estado e não desistirá de seus planos tão facilmente.

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