A sexta-feira, 4 de março de 2016 foi bastante tumultuada. O dia amanheceu sob o impacto da notícia de uma ação policial com o objetivo de levar “sob condução coercitiva” o ex-presidente Lula a prestar depoimento nas dependências da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, dando a impressão de que ele poderia ser embarcado direto dali para uma carceragem em Curitiba. Tudo isto sob aplausos de uma horda eufórica de “coxinhas”. Questão agora seria entender o porquê desta tão ousada ação ter sido deflagrada exatamente neste momento.
A primeira hipótese era de que se tratava de mais um “show
midiático" visando levantar o moral da tropa do impeachment e
turbinar o ato marcado para o dia 13 de março. A favor desta tese
está o fato de que já na madrugada o editor-chefe da revista Época,
Diego Escosteguy, publicou em seu twiter uma mensagem dizendo que o
dia seria “especial” (1h45). A s postagens continuaram até as
6h29 quando escreveu a onomatopeia “Bum”. Neste momento começava
a operação da PF na casa de Lula. Desnecessário dizer que a
imprensa chegou ao aeroporto antes dos policiais e de que haveria
todo o fim de semana para repercutir o fato nos jornais. (veja
matéria AQUI ).
A segunda versão dava conta de que a medida não poderia ser
adiada pois na mesma sexta-feira a ministra do Supremo Tribunal
Federal (STF) Rosa Weber daria sua decisão sobre o pedido de defesa
de Lula que argumentava “conflito de atribuições” pois tanto o
Ministério Público Federal (Lava Jato do juiz Moro) quanto o
Ministério Público do Estado de São Paulo investigavam o mesmo
caso; o sítio em Atibaia e o triplex no Guarujá.
Segundo a defesa do ex-presidente, a mesma situação não pode
ser investigada por diferentes órgãos da Justiça e seria
necessário estabelecer a quem cabe a tarefa: à esfera federal ou ao
Estado de São Paulo. Para a tese da defesa, como o objeto a ser investigado
está localizado em São Paulo, caberia ao Ministério Público de SP
esta função.
Para os organizadores da Java a Jato tratava se de precipitar as
coisas e fazer com que a ministra se debruçasse sobre um fato dado,
assim, pressioná-la para que decidisse a favor do grupo de Curitiba.
Como foi visto no noticiário da mesma sexta-feira, a decisão da
corte foi salomônica; por enquanto os dois ministérios poderiam
continuar atuando no caso.
Mas também é apontado uma terceira razão para o ocorrido na
sexta-feira. Criar um clima político para impedir o novo Ministro da
Justiça, Wellington Lima e Silva, de tomar qualquer medida que
interfira nos rumos da Lava Jato e assim impedir abusos, ilegalidades e
excessos que estariam sendo cometidos,o que estaria acontecendo conforme denúncias de vários
advogados e juristas.
A vida do ministro não foi fácil. Alvo de um pedido do deputado
Mendonça Filho (DEM-PE), acatado pela juíza federal de Brasília,
Solange Vasconcelos, sua nomeação foi cancelada
exatamente na sexta-feira (4) sob a alegação de que membros do
Ministério Público não podem exercer outra função pública,
salvo a de professor.
Para garantir sua posse, o novo ministro solicitou exoneração do
cargo que ocupava junto ao Ministério Público da Bahia e agora o caso deve
ser resolvida pelo STF (ver matéria AQUI).
E como não poderia deixar de acontecer, houve uma grande reação
das forças populares que começou logo de manhã em frente ao
Aeroporto de Congonhas, se espalhou por diversas cidades do país e
só terminou por volta das dez horas da noite com o discurso do
ex-presidente Lula na quadra esportiva do Sindicato dos Bancários no
centro de São Paulo.
A imediata reação surpreendeu os espíritos golpistas e diversas
vozes, inclusive no campo conservador, se levantaram contra os
“excessos” do juiz Moro. A tentativa de desestabilizar o governo
Dilma (ou fazer uma espécie de “ensaio” para um golpe) foi
abortada.
Certamente todos estes movimentos foram calculados e, desta
sexta-feira 4, restaram duas lições: a primeira é que só com a
unidade e a mobilização do campo progressista a escalada golpista
patrocinada por setores da elite poderá ser detida e a outra certeza
é a de que o movimento conservador é altamente organizado, está
profundamente enraizado nos organismos do Estado e não desistirá de
seus planos tão facilmente.
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