sexta-feira, 21 de outubro de 2016

As sutilezas da prisão de Eduardo Cunha


Ao contrário do ocorrido nas outras detenções determinadas pelo juiz Sérgio Moro a condução de Eduardo Cunha até Curitiba, em 19 de outubro, foi bastante discreta.
Nesta operação não houve nenhum vazamento para a imprensa aliada; os jornais não estavam de plantão na frente da casa do acusado para armar o circo midiático; o fato se deu no início da tarde e não nas primeiras horas da manhã; só ocorreu após a grande repercussão causada pelo vazamento de uma suposta operação para deter o ex-presidente Lula a ocorrer nos próximos dias e, muito depois de ter sido denunciado e só após terminar o trabalho de operar o impeachment da presidente Dilma.
Além do mais, ao contrário dos outros detidos, Cunha não foi algemado. Essas “medidas” abreviaram bastante a exposição do acusado junto à opinião pública, benefício que nenhum outro acusado teve.
Estas peculiaridades abrem espaço para algumas especulações. A mais óbvia é a de que com a detenção de Cunha está aberta a possibilidade da prisão de Lula, pois, deixa de pairar sobre a cabeça do juiz Moro a acusação de que ele só persegue petistas e seus aliados. Estaria restabelecida a imparcialidade.
Outra leitura do ocorrido dá conta de que o maior prejudicado seria Temer e seu governo. O afastamento de Dilma, fruto de um golpe tramado entre Cunha e Temer, poderia ter um novo desfecho. Uma possível delação do primeiro fará com que o segundo também perca o mandato. Caso esta delação só ocorra no início de 2017, o que, dado ao período de festas de fim de ano é bastante provável, fica aberta a possibilidade constitucional de uma eleição indireta para presidente em uma espécie de “mandato tampão” por dois anos. A eleição seria realizada pelos congressistas e o golpe estaria consolidado sob a batuta de um novo condutor.
Também resta a hipótese de que, mais do que um boi de piranha lançado à própria sorte, Cunha tenha negociado toda a história e, com uma delação feita sob medida, perca alguns anéis mas preserve seus colares. A homologação do acordo pouparia sua família, abreviaria a pena (que pode ser, inclusive, cumprida em liberdade ou mesmo perdoada), preservaria parte de seus bens e extinguiria o processo.
O tempo dará a resposta.

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