Ao contrário do ocorrido nas outras detenções determinadas pelo juiz Sérgio Moro a condução de Eduardo Cunha até Curitiba, em 19 de outubro, foi bastante discreta.
Nesta operação não houve nenhum
vazamento para a imprensa aliada; os jornais não estavam de plantão
na frente da casa do acusado para armar o circo midiático; o fato se
deu no início da tarde e não nas primeiras horas da manhã; só
ocorreu após a grande repercussão causada pelo vazamento de uma
suposta operação para deter o ex-presidente Lula a ocorrer nos
próximos dias e, muito depois de ter sido denunciado e só após
terminar o trabalho de operar o impeachment da presidente Dilma.
Além do mais, ao contrário dos outros detidos, Cunha não foi
algemado. Essas “medidas” abreviaram bastante a exposição do
acusado junto à opinião pública, benefício que nenhum outro
acusado teve.
Estas peculiaridades abrem espaço para algumas especulações. A
mais óbvia é a de que com a detenção de Cunha está aberta a
possibilidade da prisão de Lula, pois, deixa de pairar sobre a
cabeça do juiz Moro a acusação de que ele só persegue petistas e
seus aliados. Estaria restabelecida a imparcialidade.
Outra leitura do ocorrido dá conta de que o maior prejudicado
seria Temer e seu governo. O afastamento de Dilma, fruto de um golpe
tramado entre Cunha e Temer, poderia ter um novo desfecho. Uma
possível delação do primeiro fará com que o segundo também perca
o mandato. Caso esta delação só ocorra no início de 2017, o que,
dado ao período de festas de fim de ano é bastante provável, fica
aberta a possibilidade constitucional de uma eleição indireta para
presidente em uma espécie de “mandato tampão” por dois anos. A
eleição seria realizada pelos congressistas e o golpe estaria
consolidado sob a batuta de um novo condutor.
Também resta a hipótese de que, mais do que um boi de piranha
lançado à própria sorte, Cunha tenha negociado toda a história e,
com uma delação feita sob medida, perca alguns anéis mas preserve
seus colares. A homologação do acordo pouparia sua família,
abreviaria a pena (que pode ser, inclusive, cumprida em liberdade ou
mesmo perdoada), preservaria parte de seus bens e extinguiria o
processo.
O tempo dará a resposta.
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