Cásper Líbero, um dos modernizadores da imprensa nacional, foi o responsável pela criação da primeira escola de jornalismo do Brasil, que agora faz 70 anos.
O primeiro curso de jornalismo do Brasil completou 70 anos em 16
de maio de 2017. Seguindo a orientação testamentária de Cásper Líbero,
em 1947 foi criada uma escola de jornalismo, atual Faculdade Cásper
Líbero, que funciona em um dos edifícios símbolos de São Paulo, o
“prédio da Gazeta”, em plena Av. Paulista, palco de inúmeras
manifestações populares, desde comemorações esportivas até os
protestos políticos.
Atualmente, quando a categoria luta para reconquistar a
necessidade de formação específica para o exercício profissional
a preocupação de Cásper Líbero em criar um curso para qualificar
o jornalista se reveste de uma importância simbólica, para além da
importância histórica da data.
Infelizmente, a compreensão do empresário de que para oferecer
informação de qualidade à população é necessário priorizar o
jornalista parece não encontrar mais eco entre os atuais “donos da
mídia”, que se esmeram em precarizar, mais o jornalismo do que em
qualificá-lo.
Cásper Líbero nasceu em 2 de março de 1889 em Bragança
Paulista, interior do estado, e faleceu em um acidente aéreo na Baía
de Guanabara em 27 de agosto de 1943. Como era solteiro e não tinha
herdeiros deixou firmado em testamento a criação de uma fundação
para administrar seu legado. Assim, no ano seguinte à sua morte
surgiu a Fundação Cásper Líbero, responsável pela gestão dos
jornais, A Gazeta, A Gazeta Esportiva, a rádio Gazeta e a futura
escola (em janeiro de 1970, continuando o trabalho de Cásper Líbero,
a Fundação lançou a TV Gazeta).
Outra característica própria de sua forma de fazer jornalismo
foi a ligação do jornal com eventos públicos, onde, naturalmente,
se destaca a realização da corrida de São Silvestre,
tradicionalmente promovida pela Gazeta desde 1925. Este fato não
deixa de ser uma atitude pioneira de marketing institucional, o que
se tornou comum com o passar dos anos.
O jornalista participou da Revolução Constitucionalista de 1932,
quando São Paulo se rebelou contra o governo de Getúlio Vargas,
motivo pelo qual está enterrado no obelisco do Ibirapuera, junto aos
quatro estudantes mortos no dia 23 de maio. Após a derrota da
revolta paulista, Cásper Líbero se exilou nos Estados Unidos por um
período, o que o colocou em contato com as modernas técnicas do
jornalismo norte-americano.
Desta forma, Cásper Líbero foi um dos responsáveis pela mudança
na forma de fazer jornalismo no Brasil. Antes da aproximação com os
EUA, o jornalismo nacional era profundamente influenciado pela
imprensa francesa, onde a opinião era prioritária, sendo a
informação parte do contexto mas subordinada pela posição
política do jornal. Após a II Guerra Mundial o Brasil passou a
adotar a diretriz de que a informação é a essência do jornal e a
opinião restrita aos espaços editoriais ou dada por colunistas
específicos.
A proximidade com as técnicas americanas de produção
jornalística ficou clara em 1942 quando o U.S. Office Inter-American
Affairs (Escritório de Assuntos Interamericanos) produziu um vídeo
sobre a imprensa brasileira e escolheu como exemplo o jornal A
Gazeta. Este documentário fazia parte do esforço de guerra dos EUA
para atrair o Brasil para o lado dos aliados na II Guerra Mundial.
O filme (em inglês), além da importância histórica, apresenta um curioso passeio por uma antiga redação de jornal, completamente diferente das atuais.
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