segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Seguindo uma tradição do jornalismo pátrio Lula deve morrer


Existe uma tradição golpista arraigada em grande parte da imprensa brasileira. A defesa de uma interrupção violenta (armada ou não) da normalidade democrática por parte de jornais conservadores tem como um dos maiores exemplos o texto de Carlos Lacerda, publicado em seu jornal Tribuna da Imprensa em 1 de junho de 1950, onde dizia, sem qualquer rodeio:

"O sr. Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar."
E não se trata de um caso isolado. Outro momento antológico do golpísmo midiático ocorreu em 1964 quando o Correio da Manhã publicou dois editoriais que ajudaram a preparar a opinião pública para o golpe. Em 31 de março foi publicado o editorial Basta e, em 1 de abril, outro com o título Fora. Em pleno andamento da movimento armado a imprensa cumpria seu papel de apoiar o golpe.

Entre esses dois momentos vários exemplos de cumplicidade golpista podem ser levantados. A verdade é que, desde o fim da ditadura Vargas em 1945 até o golpe de 1964 a democracia passou por duras provas nas páginas dos jornais.

Vencida a ditadura militar no final do século XX outro período democrático teve início para, na segunda década do novo século, novo surto golpista contaminar a imprensa. Assim como antes, temos, agora, vários casos em que jornalistas se prestam a alavancar o golpe.

A revista IstoÉ, conhecida apoiadora do golpe em curso, agora passa a se equiparar com a Tribuna da Imprensa e o Correio da Manhã ao publicar o texto Lula deve morrer, de autoria de Mario Vitor Rodrigues.

Deixando de lado o que tem de grotesco o episódio, a verdade é que a revista atingiu brilhantemente seu objetivo. A repercussão do texto, ao mesmo tempo que envergonha os jornalistas sérios que restam na Editora 3, enche de orgulho a direção que, assim, vai alavancando uma publicação decadente e prestando serviço aos seus apoiadores.

Um texto com esse teor explosivo não é publicado por engano ou distração, até porque o colunista vive no Rio de Janeiro e a revista fica em São Paulo, o que faz com que o material, necessariamente passe por várias instâncias decisórias. Além do mais, Mario Vitor Rodrigues é um colaborador e não pertence ao corpo de jornalistas fixos da revista. O segundo passo da trama foi o pedido de proteção policial para realimentar a polêmica e ainda resta o apelo da liberdade de expressão e imprensa para justificar a publicação do texto.

Por essa e outras é que tudo, com certeza, foi feito de caso pensado para causar polêmica, aliás, como muita coisa no jornalismo atual.

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